O blogue a “A Casinha da Palavra” (ideia de logo criada pela Joana do 5.º C) nasceu da necessidade de partilharmos formas de informação e de divulgação do trabalho em torno da nossa biblioteca e da nossa escola. O nosse mote é o poema de Álvaro Magalhães “O Limpa-palavras”. Aqui vai ele:
O limpa-palavras
Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
A palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
Precisam de ser limpas e acariciadas:
A palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
É preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
E do mau uso.
Muitas chegam doentes,
Outras simplesmente gastas, estafadas,
Dobradas pelo peso das coisas
Que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não para de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras, não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
A palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
De mais palavras, de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
a palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
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